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RED4SUS
Manual de Aplicação

- Preparação - 

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SELEÇÃO DE PROJETOS

1.

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Nesta seção são apresentados os procedimentos práticos que podem ser empregados na seleção de projetos promissores e formação de equipes. Discute-se também o uso das premissas de projetos ágeis, abordagem que, aplicada em conjunto com a proposição Red4Sus, pode contribuir significativamente para o seu desenvolvimento.

SELEÇÃO DE PROJETOS

Incorporar inovação e sustentabilidade em projetos exige esforços e a mobilização de recursos diversos, especialmente pessoas capacitadas e engajadas para tanto. Por outro lado, no serviço público, usualmente os projetos são de grande porte, o número de projetos é grande e os recursos são limitados. Em função disso, é importante estabelecer procedimentos para a seleção dos projetos que serão alvo dos esforços para incorporação de inovação e sustentabilidade. Esta seção discute esse assunto e apresenta procedimentos práticos que podem ser empregados na seleção de projetos promissores.

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O primeiro aspecto a ser considerado são as informações existentes a respeito dos projetos que estão sendo considerados. A seleção de projetos somente pode ser apropriadamente realizada se houver informações suficientes para a avaliação dos projetos e tomada de decisão. Entre as informações importantes que devem estar disponíveis, vale destacar: Título do projeto, Departamento responsável, Fonte de recursos, Descrição do projeto, Justificativa, Prazo estimado, Abrangência, Alinhamento estratégico, Investimento e despesas estimadas, Receitas diretas ou indiretas, Balança econômico, Impacto ambiental, Impacto social, Complexidade, Relação com outros projetos, Riscos envolvidos.

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Idealmente, para facilitar a avaliação e seleção dos projetos, essas informações devem estar organizadas em uma ficha de proposta de projetos. Assim, para todos os potenciais projetos que podem ser objeto dos esforços de inovação e sustentabilidade, a mesma natureza de informações estará disponível. Aqui é apresentado um modelo de Ficha de Propostas de Projeto, com maiores informações referentes a cada campo. (Esse formulário serve como um ponto de partida para as empresas que não possuem um padrão definido. Ele certamente pode ser ajustado conforme as necessidades específicas de cada organização).

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Reunidas as informações sobre os projetos, a avaliação pode ser feita. Mais especificamente, os elementos que podem ser quantificados são: Abrangência, Alinhamento estratégico, Balança econômico, Impacto ambiental, Impacto social, Complexidade, Relação com outros projetos e Riscos envolvidos. Investimento e Receita também poderiam ser avaliados, mas eles são integrados na avaliação do Balanço Econômico. Os quadros aqui apresentam as siglas, os elementos que podem ser quantificados, e a escala [1 a 9] proposta para a quantificação. Realizada a avaliação dos elementos de cada projeto, a mesma pode ser traduzida em um indicador de prioridade. Esse indicador pode ser usado para ranqueamento dos projetos e seleção dos projetos que serão objeto dos esforços para incorporação de inovação e sustentabilidade. Recomenda-se a seguinte equação para cálculo do indicador de prioridade. A fórmula proposta é composta por três parcelas indicadas entre parêntesis:

Prioridade = (ABxAE) x (BE+IA+IS) x (CX+RO+RI)

A primeira parcela avalia a Necessidade e segue uma lógica multiplicativa, indicando que serão priorizados projetos que atendam simultaneamente os quesitos de Abrangência e Alinhamento estratégico. Assim, não são relevantes projetos de alta abrangência, mas baixo alinhamento estratégico ou projetos de baixa abrangência, apesar de alto alinhamento estratégico. A segunda parcela avalia o Impacto e segue uma lógica aditiva somando os impactos econômico, ambiental e social. Nesse caso, a lógica é aditiva, pois um impacto menor em uma dessas três dimensões pode ser compensado por impactos maiores nas demais parcelas. Importante mencionar que os impactos econômico, ambiental e social podem ser positivos ou negativos, sendo que são priorizados projetos com impacto elevado, independentemente do sinal. Isso é assim porque os esforços de inovação e sustentabilidade podem ajudar a mitigar impactos negativos ou a potencializar efeitos positivos. A terceira parcela mede a Dificuldade para implementação do projeto, traduzida na forma de soma simples dos quesitos Complexidade, Relação com outros projetos e Riscos envolvidos. São priorizados projetos de maior complexidade, que apresentem maior dependência com outros projetos e onde os riscos envolvidos são maiores. Os esforços de inovação e sustentabilidade são especialmente bem-vindos nesses casos de maior dificuldade. 

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Por fim, a lógica geral da priorização, conforme apresentado na equação, é multiplicativa. Assim, são priorizados projetos que combinam Necessidade, Impacto e Dificuldade elevados. Feito o ranqueamento, utilizando o indicador de prioridade, a seleção dos projetos que serão objeto de inovação e sustentabilidade ainda precisa atentar para restrições na capacidade de condução dos projetos. Essas restrições podem envolver questões financeiras, questões técnicas, disponibilidade de infraestrutura ou tamanho da equipe disponível. Assim, por exemplo, 20 projetos podem estar ranqueados, enquanto que a avaliação das horas de envolvimento mobilizadas por cada projeto pode definir que existem recursos para conduzir os 12 primeiros projetos dessa lista. Essas restrições são específicas de cada organização e definem o número de projetos que poderão ser incluídos no programa de inovação e sustentabilidade.

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FORMAÇÃO DE EQUIPES

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A composição das equipes na esfera pública é, por si, diversificada. Isso acontece tanto devido a origem dos profissionais e as diferentes formas de seleção, como devido às funções exercidas em cargos públicos, que podem ser da administração direta ou indireta (como os servidores e funcionários públicos de carreira), serviços de empresas terceirizadas, cargos eletivos e /ou comissionados.

A visão da complementaridade desses diferentes perfis pode despertar espírito de equipe, liderança e o desenvolvimento de habilidades empreendedoras. O comportamento empreendedor pode ser compreendido por conhecimentos, habilidades e atitudes que mobilizam o processo de criação e consequentemente de inovação dentro das organizações, não necessariamente exigindo que este perfil empreendedor coincida com aquele de um empresário atuante do setor privado.

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O processo criativo e a cultura do empreendedorismo e da inovação no setor público podem servir para que as tomadas de decisão sejam baseadas em conhecimentos complementares, apoiados em diferentes visões de mundo e da realidade em que se inserem. Desta forma, compreender aspectos relacionados ao desenvolvimento da criatividade exige equipes com maior perfil de conhecimentos, habilidades e atitudes cuja multidisciplinaridade, diversidade e inclusão sejam priorizados. A organização dos times, equipes multidisciplinares serve para que o olhar na seleção de diferentes perfis sejam considerando também para além dos gestores e líderes, ou seja, o foco da criação de ideias e na gestão dos processos de inovação precisam visualizar os requisitos baseados no consumidor (cidadão) e na sociedade. Em geral, “o empreendedor é aquele sujeito no setor público que, de forma individual ou coletiva, idealiza, fomenta, produz, executa ou coordena a inovação” (Emmendoerfer, 2019, p.24).

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Para isso, o desenvolvimento e a capacitação dos técnicos que atuam no setor público precisam envolver os aspectos relacionados às soft skills, estimulando a geração de ideias e inovações, a criatividade, iniciativa, liderança e comprometimento. Além disso, é preciso habilitar as pessoas a tomarem decisões com riscos calculados, a serem mais persuasivas, a ampliar a sua rede de contatos e a combinação destes diferentes conhecimentos. Essas habilidades e atitudes criam uma atmosfera propícia ao empreender e aos processos inovativos. Estas condições são inerentes a natureza das pessoas, porém para colocá-las em prática e gerar o potencial criativo e inovador, é preciso um ambiente receptivo para tal.

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Equipes que combinem as “soft e hard skills” tendem a ser mais construtivas e engajadas. Isso porque as habilidades técnicas são as principais relacionadas nos processos de seleção e recrutamento, especialmente quando são analisados os perfis dos cargos investidos no setor público. Assim, é fundamental que haja um olhar e também o aprimoramento das habilidades sociais, de relacionamentos, posto que estas características tendem a compor um ambiente e relações mais profícuas e assertivas. Como exemplos, podemos citar que a constante busca por oportunidades e iniciativas, a persistência, a empatia, a confiança, a resiliência e a atuação colaborativa, dentre outros, contribuem para a maior dedicação e comprometimento das equipes de projetos. Assim, a interdisciplinaridade, a diversidade de perfis, considerando inclusive gênero, raça, credos, traz visões de mundo diferentes, que representam melhor o amplo espectro da sociedade. Essa diversidade favorece o processo criativo, permite um entendimento mais profundo dos problemas e necessidades dos cidadãos. Assim, as soluções construídas, na forma de produtos, processos ou serviços, resultam melhor alinhadas com os anseios da comunidade envolvida, qualificando as inovações e os benefícios gerados.

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Portanto, a constituição de equipes que combinem características técnicas (hard skills) e pessoais (soft skills), pautadas na diversidade, tende a ampliar a capacidade de criação e geração de inovações. Naturalmente, sabe-se que conhecimentos técnicos e soft skills podem e devem ser objeto de aprimoramento pessoal e coletivo. Assim, as organizações, que são compostas pelas aptidões, aprendizados e trajetórias coletivas de desenvolvimento, podem planejar suas ações visando a formação de equipes preparadas para conduzir o processo de inovação.

Formacao Equipes

PROJETOS ÁGEIS

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A abordagem Ágil vem sendo explorada e aplicada, inicialmente para o desenvolvimento de software, já há mais de duas décadas. Desde o seu surgimento, oficializado com o Manifesto para Desenvolvimento Ágil de Software, segue, no entanto, fundamentos-base que podem ser aplicados a qualquer desenvolvimento, não apenas de software, como: (i) INDIVÍDUOS E INTERAÇÕES, mais que processos e ferramentas; (ii) PRODUTO FUNCIONANDO, mais do que documentação abrangente; (iii) COLABORAÇÃO COM O CLIENTE, mais do que negociação de contratos; (iv) RESPONDER ÀS MUDANÇAS, mais do que seguir um plano. Como pedra basilar destes fundamentos  tem-se, ainda, a premissa do Pensamento Sistêmico como forma de perceber não apenas o problema, mas também seu entorno, em termos de indivíduos e áreas envolvidas.

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Entretanto, muitos são ainda os entendimentos equivocados a respeito da abordagem Ágil, a começar pela assunção de que os itens à direita dos seus enunciados-fundamento não tem valor, quando na realidade trata-se apenas de objetividade e priorização. Da mesma forma, a má interpretação de alguns dos seus 12 princípios também promove confusões, como acreditar, por exemplo, que a abordagem Ágil é contra a documentação (quando, de fato, ela prioriza a interação face-a-face); de que a abordagem Ágil é aplicada sem planejamento (quando, de fato, o planejamento é iterativo, diário, sendo tempestivamente ajustado); de que não há disciplina de trabalho (quando, de fato, ela requer equipes necessariamente autodisciplinadas para realizar o trabalho de forma colaborativa e atender às demandas de qualidade e prazo de cada entregável do projeto); de que ela não é escalável (quando, de fato, existem frameworks, como o SAFe® e o Scrum@Scale, evidenciando que métodos efetivos para a escalabilidade estão sendo aplicados pelas organizações). 

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Outros equívocos dizem respeito a acreditar que ela seja uma metodologia com etapas determinadas a serem seguidas, quando se trata de um mindset de trabalho. Por este motivo, é entendida muitas vezes como sinônimo de Scrum, este sim, um framework, uma metodologia, que segue os fundamentos e princípios da abordagem Ágil. Portanto, para compreender o cenário Ágil é importante não confundir a abordagem de trabalho, o estilo de trabalho, com suas ferramentas.  

 

Mas como conduzir projetos Ágeis em ambientes não nativos a esta abordagem? Em primeiro lugar, embora existam inúmeras ferramentas disponíveis associadas a metodologias Ágeis, como Kanban, Scrum e Lean, a prática de um novo modelo de trabalho exige planejamento e treinamento, visto que precisa encaixar-se na organização, ser abrangente e intersetorial, para que as respostas às demandas dos projetos sejam rápidas, mas eficazes. O que isto quer dizer? Que a organização, como um todo, precisa concordar, aceitar e colaborar com este novo modelo de desenvolvimento de projetos, percebendo seus benefícios em termos de criação de valor. Caso isto não ocorra, as chances de sucesso diminuem, por melhor que seja o planejamento do projeto. Em segundo lugar, significa uma nova realidade para profissionais de desenvolvimento acostumados a interagir praticamente dentro de seus departamentos, setores ou áreas, com pouca ou eventual interação com os usuários do projeto e outras partes interessadas. A abordagem Ágil exige este contato rotineiro das equipes de desenvolvimento com os stakeholders dos projetos para que as expectativas destes interessados possam estar contempladas em cada sprint das soluções em desenvolvimento. Em terceiro lugar, a abordagem Ágil propõe uma nova forma de trabalho interno, na qual as atividades e responsabilidades são autogeridas pelas equipes, e não mais pela figura de um gerente de projetos tradicional, que monitora e controla atividades, prazos, escopo, etc. Neste modelo, ao gerente, cabe a responsabilidade pela macrogestão do projeto, aos aspectos estratégicos do seu desenvolvimento para a organização, e não à microgestão. Este é um ponto fundamental de diferença, porém subestimado por organizações que tentaram, mas falharam ao adotar o modelo ágil de projetos. Por último, para que a adoção da abordagem Ágil seja efetiva e ofereça resultados positivos para o projeto e organização, sua aplicação deve ser sistêmica, isto é, do planejamento a implantação do projeto, e não apenas em determinadas etapas do seu desenvolvimento. A combinação de formas e abordagens diferentes de trabalho para um mesmo projeto apenas confundirá equipes e gestores, dificultará a execução e monitoramento do trabalho, podendo gerar resultados imprevisíveis ou indesejados.

 

Estas questões são fundamentais na transição para a abordagem Ágil e, se não enfrentadas, podem gerar resistência à mudança, tanto por parte da organização, como das equipes ou dos gerentes de projeto. Neste caso é preciso identificar as causas desta resistência (por exemplo, insegurança dos profissionais quanto a sua capacitação, incompreensão da abordagem, desconhecimento dos seus benefícios, manutenção do status quo de poder, etc) e analisá-las em profundidade para definir uma estratégia de mitigação. Isto porque a resistência à mudança tem sido identificada como causa importante de fracasso mesmo em projetos minuciosamente planejados. Ela pode ser percebida por comportamentos típicos dos indivíduos como: argumentação interminável sobre qualquer assunto, crítica constante, comentários  sarcásticos, ausência a reuniões, compromissos não cumpridos, discussões inúteis, e mesmo, sabotagem em alguns casos. Fisher (2012) descreve de forma gráfica as etapas de um processo de transição apresentando os sentimentos negativos e positivos com os quais os indivíduos enfrentam esta curva da mudança. Portanto, a capacitação e o engajamento da organização e dos indivíduos a esta nova filosofia de trabalho é fundamental para o sucesso da aplicação da abordagem Ágil.

 

Infelizmente, muitas organizações fracassam na adoção do modelo Ágil em função da cultura organizacional não suportá-la ou, ainda, por falta de conhecimento, liderança e expertise em como implementá-la. É preciso, assim, selecionar profissionais com perfil adequado, tanto para o desenvolvimento como para a gestão, alinhar a equipe, capacitar o pessoal envolvido nos projetos, porque, como vimos anteriormente, muitos são os equívocos e mitos atribuídos a esta abordagem. Por fim, é necessário estabelecer um sistema de gestão de projetos ágeis com base em métricas eficientes que possibilitem a mensuração dos resultados do desenvolvimento dos projetos. A identificação dos sucessos alcançados e o mapeamento dos pontos de melhoria estabelecerão, também, não apenas uma base de lições aprendidas, como orientarão o desenvolvimento de projetos futuros.

Projeto Ageis
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